segunda-feira, dezembro 03, 2007

Belos Horizontes

Aos nove anos lembro-me de apalpar dentro de uma cabaninha, as nádegas claras da moreninha linda, filha do vigia da casa grande e branca. Passeei por elevações consagradas de prazer e retive em minha memória aquele gesto belo de vida... Mais tarde, aos doze, pouco após terem feito um grande corte no meio do meu peito, minhas mãos percorreram os pequenos lábios de Vênus da menina de quinze anos vinda da roça para nossa casa e, correndo cheio de felicidades em direção à igreja que ficava ao lado balancei o turíbulo espalhando a fumaça do incenso no altar, função que tinha como coroinha, em pleno estado de graça. O tempo passou, aprendi a tocar, sentir as mãos, cabelos, pernas, a abraçar agradecendo e louvando como em uma grande oração as extraordinárias fadas que habitam meu povoado. Aprendi também que as lembranças corrompem o presente e que só no contato físico com meus semelhantes, com amor, compaixão, pequenos afetos, carinhos; mais que portas, janelas, escadas, ruas, praças, belos horizontes só são possíveis quando caminhamos juntos pela cidade de mãos dadas com os amores e amigos.

Fernando Fiuza 2/12/07